segunda-feira, novembro 24

Os tempos são outros...Uma cidade diferente!!!


O Banhado de São José dos Campos




O Pico do Selado!!!





Os tempos são outros...Uma cidade diferente!!!





O tempo relativo das coisas que se espalham por aí.



Estive pensando nesse vai e vem da nossa cidade, nesse tumulto, indefinível caos.



Não sou daqui, sou lá do norte do Paraná, mas lembro do meu pai e da minha mãe contando as histórias mais envolventes sobre o vale do Paraíba dos anos 40, 50, 60.



Minha mãe, uma mulher humilde que morava lá pelos lados do bairro “Pau de Saia”, “Bengalar”, vinha a cavalo para o centro da cidade. Meu pai morava daqueles lados, no bairro do Turvo e também vinha montado em seu cavalo, até o centro. Casaram-se e aventuraram-se pelo sertão do Paraná. Muita gente nessa época saiu de São José para tentar uma vida nova pelas bandas do Paraná. Lá, eles teriam terras mais baratas.



Ouvi ao pé do fogão de lenha, lá na roça do Paraná, as histórias do “Corpo Seco” que meu pai contava nas noites claras de luar e que nos deixavam impressionados, por saber de coisas tão incríveis.



Contava ele, que os “Corpos Secos” eram aquelas pessoas que batiam no pai e mãe e quando morriam, ficavam com os braços pra fora do túmulo. Então o padre era chamado e o “Corpo Seco” ia lá pra igreja São Benedito. O padre levava a dita figura, depois de certo tempo, lá para o Pico do Selado.



Esse Pico era povoado pelos “Corpos Secos” e qualquer pessoa que por ali passasse a cavalo, a figura pulava na garupa e o cavaleiro não via nada, mas sentia o peso atrás de si. O cavalo nem conseguia carregar, mas quando chegava na ponte, algo inusitado acontecia: o cavalo ficava esperto, mais leve, e o cavaleiro tinha a sensação que algo havia saído da garupa. Na verdade, dizem todas as línguas, que o “Corpo Seco” nunca ultrapassa o rio. Só chega perto da ponte, mas não passa por ela. Ufa, era a salvação dos andantes das estradas ao redor do Pico. Dizia ainda, meu pai, que uma pessoa caridosa era voluntária para cortar os cabelos e as unhas dos corpos secos, pois cresciam rápido demais.



Eu sempre ficava imaginando como era esse Pico do Selado e achava esse nome tão exótico, tão diferente.



Minha mãe contava que anos mais tarde quando já tinha cinco filhos pequenos, teve que voltar a São José porque uma das minhas irmãs estava doente e tinha que fazer um tratamento sério. Nesses tempos, os irmãos mais velhos cuidavam da casa e os outros dois menores, ficavam numa creche. Ela começou a trabalhar numa pensão no centro da cidade e dizia que o Mazzarope sempre ficava por lá e até ajudava a comprar as coisas do almoço. Nessa época eu nem tinha nascido. Ela dizia que meus irmãos tinham pavor da mulher do pasto. Era uma mulher que morava no pasto para os lados de Santana e sempre carregava um saco nas costas. Era a Maria Peregrina.



O mais interessante era ouvir sobre o carnaval de rua, onde todos saiam para acompanhar os bonecões gigantes. E tudo ao som das antigas marchinhas. Tudo muito bucólico, muito poético.



A minha infância no interior do Paraná sempre foi regada por histórias joseenses, com seus encantos primitivos. A minha curiosidade e o desejo de conhecer esse lugar tão mágico e tão diferente era intenso.



Depois de tanto tempo ouvindo essas histórias encantadas pude constatar algumas delas quando toda minha família resolveu voltar para São José dos Campos.



Fui conhecer o Pico do Selado e senti arrepio ao passar por aquela montanha misteriosa. Todos me convidavam para fazer trilha por lá, mas confesso, nunca tive coragem. Aquelas histórias da infância ainda estavam lá, impressionando. Fiz trilha no morro do Guaxindiva, no Rio do Peixe, no Bairro do Turvo e muitos outros lugares...mas no Pico do Selado, nunca!!! Nunca entrei naquelas matas misteriosas, só fiquei observando de longe como um sinal inconsciente.



E rodando por essa cidade tão mágica, com portais e saídas para outras dimensões; cheias de nuvens com desenhos simbólicos que só os loucos sabem decifrar (o Solfidone decodificava todos eles, num tempo remoto); Com objetos não identificados e outros nem tão indecifráveis assim, voando por aí...encontrei muitas coisas interessantes e outras nem tanto.



Acabou-se a tuberculose, restaram os sanatórios, metamorfose cultural. Mas de tudo, não dá pra esquecer uma das coisas mais belas, mais preciosas, que é o Por do Sol no Banhado, que mais parece uma tela de Van Gogh...Um lugar onde os poetas dessa cidade, deleitavam-se nos fins de tarde em busca da verdadeira inspiração.



E agora, São José?



Elizabeth

8 comentários:

Anônimo disse...

Oie Bety que texto lindo este “Os tempos são outros…Uma cidade diferente!” Sua prosa é maravilhosa nesta linha merece um livro vou repassar para minhas lista texto divino…Vou passear neste lugar adoro esta nossa mantiqueira o tempo são outros mesmo sumiu até o Franklin.To construindo novas amizades, tem semana literária voce precisa conhecer a Patricia Napuceno, apareça lá…legal ter voltado a fazer prosa… Não consigo ler mais poesia só Allen Gnsberg e os Beat… QUE são maravilhosos…ainda vou neste pico beijos inimiga favorita…

Anônimo disse...

Valeu Joca Faria!!! O Pico do Selado é o mistério da minha infância!!!
Elizabeth

Anônimo disse...

Oi Bety, gostei muito do que li!
Svarboy

Anônimo disse...

Svarboy… Que bom que gostou, agradeço a sua visita!!!
Abraços!

Anônimo disse...

Bete,
parabéns pela obra acima.
Certamete há belezas e fantasmas, sóis e suas luas, sertões dentro de nós.
Cá, também, de cima de meu monteiro vejo a solidão dos dias. Um tipo de solidão que me joga prá todos os lados de dentro até fazer sair alguma coisa insuspeita que estava guardada.
Até muito breve…
Paulo Pinheiro

Anônimo disse...

Paulo
Obrigada pela visita…Os mistérios insondáveis estão nos sondando, não é mesmo?
Espero vê-los em breve para trocarmos essas figurinhas tão guardadas…Sinto falta das nossas conversas, apareçam…abraços a Shirley

Anônimo disse...

Beth,muito interessante ler sobre essas histórias que eu não conhecia. Sob toda essa industrialização e “progresso” felizmente ainda vive a verdadeira São José dos Campos. Mesmo que tentem, nao conseguirão esconde-la, principalmente enquanto houver guardiães de suas memórias, como você. Adorei as histórias.
Beijos
MLúcia

Anônimo disse...

Maria Lúcia
Obrigada pela visita...Não podemos perder tão belas lembranças.
Abraços!